segunda-feira, 27 de julho de 2009

A psicologia no desporto

Gostaria de partilhar alguns mitos sobre os psicólogos no futebol, para que possamos perceber algumas barbaridades que são ditas e principalmente o que se anda a perder....pelo menos alguns!
Este texto foi retirado da APEF (Associação de escolas de Futebol), num trabalho realizado por Pedro Teques.

Os mitos:

O psicólogo é a mesma coisa que um bruxo. Incrivelmente, há quem ainda
compare… E existe quem ainda procure milagres no desporto. Mas a psicologia é uma disciplina científica, e como tal, não faz milagres. Se alguém está á espera que o técnico em psicologia faça milagres, é melhor contratar o bruxo. Será que algum treinador, preparador físico, médico, fisioterapeuta, ou até mesmo, um atleta é contratado para fazer milagres?

O psicólogo é para os malucos, e na equipa ninguém é maluco. Importa afirmar que a Psicologia Geral é constituída por várias áreas e disciplinas, com constructos
teóricos próprios e aplicações e intervenções diferenciadas. Portanto, a Psicologia Clínica
ocupa-se dos aspectos patológicos do comportamento humano, e esta, é somente uma
das áreas da Psicologia. A Psicologia do Desporto é uma disciplina científica que utiliza
técnicas e aplicações psicológicas para a optimização do rendimento e bem-estar de
atletas e demais agentes desportivos (treinadores, dirigentes, árbitros). Logo, como
objecto de estudo, o comportamento normal, de pessoas normais e em situações
normais. O objectivo será ajudar os atletas e treinador a atingir as etapas a que se
propõe, promovendo ao máximo o rendimento desportivo.

Não precisamos de psicólogo. A psicologia é com o treinador. O treinador é uma figura essencial na vida de qualquer atleta e, muitas vezes, tem a responsabilidade de os
preparar psicologicamente. Não duvidemos de que o treinador tem que saber muito de
psicologia para ser bem sucedido. Mas, não é psicólogo.
As competências do treinador
deverão abranger algumas áreas importantes específicas ao contexto desportivo –
princípios de preparação física, conceitos básicos de medicina e fisioterapia, gestão,
psicologia e outros. No entanto, o treinador não poderá substituir todos os técnicos
especializados em qualquer destas áreas. Neste caso, se um atleta tiver uma lesão nos
ligamentos cruzados, não compete ao treinador realizar a intervenção cirúrgica. Da
mesma forma que o treinador deverá dominar alguns conceitos de psicologia, mas a sua
competência, naturalmente, tem um limite. O psicólogo não consegue substituir o
treinador, e o treinador não substitui o psicólogo. Mas, o treinador é o líder de uma
equipa, e a ele cabe-lhe organizar uma equipa técnica que possa melhorar o rendimento
dos atletas da equipa – preparador físico, fisioterapeuta, psicólogo, etc.

A psicologia do desporto é só para os atletas do Alto Rendimento. Os atletas de elite, que competem ao mais alto nível desportivo, obviamente, devem ter uma
preparação psicológica adequada para a optimização do
rendimento desportivo. No entanto, a aplicação dos conceitos psicológicos no desporto não se cinge aos atletas seniores ou de alto rendimento. Aliás, os mais jovens, tal como os treinos da técnica e da táctica desde a etapa da iniciação até à especialização, deverão ter uma preparação
psicológica por etapas.

O psicólogo é um avaliador. Só passa testes. Existem dois tipos de psicólogos. Os
psicólogos que passam testes e os psicólogos que fazem uso eventual de questionários
para acederem a variáveis que, de outra forma, teriam mais dificuldade para aceder.
Considerando que a utilização de questionários no desporto, no âmbito aplicado, poderá
tornar-se maçadora e, muitas vezes, sem resultados diagnósticos credíveis, a avaliação
psicológica deverá realizar-se através da observação e/ou da entrevista. Sabendo de
antemão que, para qualquer intervenção, ter-se-á que fazer um diagnóstico avaliativo, o
papel do psicólogo nesta situação é a de estar no campo, equipado, tal como a equipa
técnica, de bloco na mão a tirar notas, a trocar opiniões, a retirar informações das várias
pessoas da instituição desportiva, etc. No entanto, o trabalho de gabinete é, por vezes,
necessário. Para realizar uma entrevista aos atletas ou ao treinador, para trocar opiniões
privadas ou até para trabalhar os resultados obtidos.

Para quê o psicólogo? Os jogadores já nascem com as características
psicológicas.
As competências psicológicas não são inatas, mas aprendidas. E, portanto, poderão ser treinadas. Talvez, reflexo de se pensar que o jogador já nasce, que existe
uma componente genética que é responsável por tudo, se pense que a dimensão
psicológica seja a mesma questão. Não é verdade. As competências psicológicas são alvo
de desenvolvimento. De forma similar ás componentes táctica, técnica ou física, que são
treináveis, que podem evoluir e/ou regredir consoante o nível de prática e de treino, a
componente psicológica apresenta as mesmas características. Por isso, por vezes, é
injusto para qualquer atleta ser acusado de falta de concentração. Já alguma vez lhe
deram estratégias para se poder concentrar? Aliás, ele sabe o que é a concentração?

Concluindo…

A dimensão psicológica, muitas vezes, é incompreendida. Por isso, alguns mitos
irracionais face o desconhecimento. Sabemos que estamos perante um campo
inexplorado no desporto. E, também sabemos, que quem souber explorar
convenientemente esta componente no treino, será mais bem sucedido do que os outros
no desporto.

Inovem e apostem num Psicólogo do desporto na vossa equipa técnica.

Sem comentários:

Enviar um comentário